Ozéia Oliveira

Ozéia Oliveira
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domingo, 31 de outubro de 2010

O BEIJO DA CAPA...

Pelo menos 27 pessoas cancelaram suas assinaturas do Washington Post depois que o diário americano publicou, em sua primeira página, uma fotografia de dois homens de beijando. A foto foi tirada na quarta-feira da semana passada (3/3), dia em que a Suprema Corte dos EUA autorizou o distrito de Colúmbia a realizar casamentos entre pressoas do mesmo sexo, e publicada no dia seguinte.

Essa notícia me chamou muito a atenção. Em primeiro lugar, a confirmação da incômoda sensação de que a lei está muito aquém da opinião comum. A exagerada ênfase na luta pelos direitos parece criar a ilusão de que poder casar e ter leis antihomofobia garante respeito alheio. Pois bem: não garante coisa nenhuma. Tão aí os Estados Unidos, que mesmo assistindo a um avanço progressivo das leis homoafetivas, convivem com manifestações violentíssimas de homofobia. “Esse tipo de coisa faz pessoas normais quererem vomitar”, disse um dos leitores do Washington Post sobre a fotografia. Mais comedida, outra leitora reclamou: “eu preferia que as imagens de capa não fossem tão perturbadoras, já que meus filhos podem vê-las na mesa do café da manhã”.


A foto da capa, pra vocês darem aquela vomitadinha
Mas prossigamos:

Leitores descontentes sugeriram que a imagem poderia ter sido estampada na seção metropolitana, e não na primeira página; outros, mais radicais, defenderam que ela não deveria ter sido publicada de jeito nenhum. O ombdusman do jornal, Andrew Alexander, diz que é normal receber reclamações após a publicação de fotos consideradas polêmicas. Ele cita como exemplo recente as imagens de vítimas do terremoto no Haiti.

De que adianta casarmos e o raio que o parta se um beijo nosso faz as pessoas quererem vomitar? Se é tão “pesado” para a cabeça das pessoas quanto imagens de vítimas de um terremoto? Não, sério. Esse parelelo do ombudsman é tão absurdo que beira o engraçado.

É claro que os direitos são prioritários em vários aspectos, mas vejo alguns militantes tão obcecados com eles que parecem esquecer a força da mentalidade e da cultura. Para eles, repito duas palavrinhas – constantes aqui no blog: mídia e educação.
12 comentários | Jornais, Mídia | Etiquetado: casamento entre pessoas do mesmo sexo, casamento gay, distrito da columbia, Estados Unidos, Washington Post | Link Permanente
Escrito por Pedro Guimarães


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8 de março: um dia para pensar no sexismo
8 08UTC março 08UTC 2010

Sempre que dizem que algo é “coisa de mulher” ou “coisa de homem” fico muito incomodado. Mulher é mais cuidadosa, homem tem mais coragem, mulher é mais delicada, homem é mais bruto, mulher é mais madura, homem é mais inteligente. E segue. Ad infinitum.

Talvez isso se relacione com o fato de eu ser um homem que tem uma das atribuições mais “de mulher” de todas: a atração pelo sexo masculino. Acostumadas a supor o comportamento e as aspirações dos indivíduos com base em gênero, muitas pessoas acabam ficando confusas, não sabendo o que esperar de mim. Dentro dessa esquemática, meu maior sonho seria copiar cada trejeito da mulher, afinal, por gostar de homens, não seria concebível eu cultuar uma masculinidade minha. Esperam, por fim, uma tentativa tosca de imitação do universo feminino, que resultaria em um dos mais clássicos estereótipos: a bicha.

Mas a minha preocupação com qualquer tipo de sexismo vai além de eu, como homossexual, ficar sem lugar na hora em que os homens vão jogar futebol e as mulheres lavar a louça. Tem muito pouco a ver com sexo, na verdade: o incômodo aqui é a total rejeição à individualidade dos sujeitos. Porque não é possível que desde crianças as pessoas já tenham de gostar de determinados brinquedos, desenhos e atividades voltadas para o seu gênero, sob o risco de serem chacotados em ambiente escolar e até familiar. Que as meninas sejam educadas para agradar, limpar e manter tudo em ordem, enquanto os meninos ganham as mordomias de suas mães – dando origem a uma sociedade em que o homem estupra e a mulher tem vergonha de reivindicar prazer sexual.

Toda vez que me xingam de viado por aí – e sempre, SEMPRE são homens que o fazem – me entristeço não só por mim, mas pelas mulheres que são esmagadas pelo esquema sexista e pelos homens que dele não usufruem. Mas me entristeço, principalmente, pelos homens e mulheres que o reafirmam diariamente, tão preocupados em ser machos ou fêmeas que esquecem de ser o que são.

Feliz dia.

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